Sonangol quer reunir com Sócrates para pressionar entrada na Galp
O desfecho da venda de posição da Eni na Galp - operação que os governos de Portugal, Angola e Brasil conheciam desde o início - voltou à esfera política.

Elisabete Felismino
Ana Maria Gonçalves
elisabete.felismino@economico.pt

A novela accionista da Galp Energia conhece hoje novo episódio. O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do presidente angolano, Carlos Feijó, e o presidente da Sonangol, Manuel Vicente, fizeram contactos para serem recebidos pelo primeiro-ministro, José Sócrates, e pelo representante do Estado nas negociações que envolvem a venda da participação da Eni na Galp à Petrobras, o advogado António Vitorino.

Os responsáveis angolanos já estão em Lisboa na tentativa de pressionar uma entrada directa no capital da Galp. Um cenário que se abriu com a decisão da italiana Eni de vender 25% dos 33,34% na petrolífera portuguesa à Petrobras e que deixam, para já, 8,34% em aberto.

Accionistas indirectos através da Amorim Energia - onde detém 45% do capital os angolanos têm esbarrado na oposição de Américo Amorim, seu parceiro de negócios, a um reforço de poderes na Galp. Segundo fontes contactadas pelo Diário Económico, o Governo português, que apadrinhou com o ex-presidente brasileiro, Lula da Silva, a aproximação da Petrobras à Galp, tem procurado convencer os angolanos a ficarem com os 8% renanescentes. A razão é simples. Caso o Estado não veja os seus intentos concretizados, terá de, através da CGD -que já disse que não vê com bons olhos a injecção de mais dinheiro na Galp - ou da Parpública, gastar cerca de mil milhões de euros na aquisição desta parcela de capital da petrolífera portuguesa.

Por sua vez, os angolanos que têm uma vasta carteira de activos portugueses, sobretudo na área financeira - que vão desde o BCP ao BPI- prometem fazer valer o seu crescente peso na economia nacional para assim alcançarem o seu objectivo: entrar directamente no capital da Galp Energia.

Negócio tinha aval dos três governos

De acordo com fontes próximas do processo, a operação de entrada da Petrobras na Galp foi, desde o início, do conhecimento dos três governos: português, angolano e brasileiro. A própria Petrobras esteve recentemente em Luanda, durante dois dias, em contactos com a Sonangol, tendo saído de lá com a garantia de que os angolanos não têm nada a opor à sua entrada no capital da Galp -a Petrobras tem fortes investimentos em Angola e a Sonangol elegeu o Brasil como um dos seus alvos prioritários de internacionalização.

No entanto, a petrolífera angolana salvaguardou que prefere ter uma participação directa na Galp Energia. E é com base nesta pretensão que os angolanos têm feito saber que, caso Américo Amorim se continue a opor à sua entrada directa na Galp, vetam o negócio da Petrobras. Certo é que, a reunião da Amorim Energia que teve lugar na sexta-feira passada, dia 28, em Haia foi inconclusiva, pesem embora os pareceres jurídicos que ambos apresentaram.

Enquanto os accionistas da Amorim Energia medem forças, Eni e Petrobras continuam à mesa das negociações. As mesmas fontes asseguram, aliás, que "neste processo ainda tudo pode acontecer, já que nada está formalizado". O valor da operação entre Eni e Petrobras deverá rondar os quatro mil milhões de euros, dos quais apenas 3.500 milhões serão pagos em dinheiro - o restante envolverá activos petrolíferos.

Os italianos são os menos pressionados neste processo e continuam a afirmar que não têm pressa para vender os 33,34% que detêm na Galp Energia. De resto, os italianos também não querem afrontar a Sonangol pelo que, para já, esperam que o processo possa decorrer de forma pacífica e consensual. Fonte oficial do gabinete do primeiro-ministro afirmou apenas que a agenda pública de José Sócrates não prevê encontros com os representantes angolanos.

in Diário Económico